quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O meio não é a mensagem

Depois de 119 de anos de história, o “Jornal do Brasil” se rendeu à internet e se “desintegrou” na última terça-feira. Deixou o papel, seu antigo companheiro, para desbravar o fascinante, alucinante, intrigante e infinito mundo virtual. Abandonou a mídia impressa para se tornar o primeiro jornal 100% digital do país. Em meio a mais uma empreitada inovadora do tradicional impresso fluminense, ressurge uma série de questionamentos acerca do futuro - ou seria presente? - dos jornais ante o crescimento avassalador das plataformas digitais.

Estaríamos nós próximos do fim da era impressa? Há décadas, estudiosos fazem e refazem essa pergunta. Ano após ano, caem as previsões e jornais e revistas, mesmo cedendo espaço para mídias digitais, sobrevivem se reinventando e desenvolvendo tentáculos (sites, blogs e perfis em redes sociais) que possibilitem uma convivência harmoniosa entre os diferentes suportes de informação. Se antes o meio era a mensagem, como definiu o teórico Marshall McLuhan no livro “Os meios de comunicação como extensões do homem”, agora surge o conceito inverso, com ênfase no conteúdo, independente da plataforma.

Com uma série de pioneirismos na bagagem, o “Jornal do Brasil” se lançou em seu maior desafio. Muita gente falou, teorizou, fundamentou e profetizou. Mas coube ao JB a missão de, mais uma vez, ser o primeiro. Baluarte da liberdade de imprensa durante a ditadura militar. Primeiro a valorizar o jornalismo regional, criando o caderno de Cidades. Precursor no uso de chamadas-resumo na primeira página, modelo seguido pelo LIBERAL e por centenas de periódicos em todo país. Agora, o único a migrar do papel para o ambiente digital.

Ao anunciar sua imersão na internet, o impresso explicou em 50 tópicos os motivos que o levaram a virar as costas para a celulose. Em linhas gerais, o argumento tem dois eixos: a eminência da abrangência digital, com a crescente virtualização das relações sociais; e a importância da sustentabilidade como forma de prorrogação da existência humana e como pré-requisito para transição do terceiro para o primeiro mundo.

Se o JB está certo, logo saberemos. Mas, se considerarmos seu histórico visionário, devemos, ao menos, repensar o modelo atual de jornalismo impresso. Eu ainda acredito no tato. Embora cooptada por atacado pela rede mundial de computadores, essa nova safra de leitores não dispensará a sensação de tocar e sentir o cheiro do papel jornal. De qualquer forma, o JB nos mostrou um caminho interessante...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Até um dia, ‘DVD’!

A morte do jornalista David Garcia, vítima de um improvável e inacreditável acidente de trânsito em Americana, me levou a profundas reflexões sobre a linha tênue estabelecida entre a vida e a morte. Pensamentos que ocupam minha mente desde as 16 horas da última segunda-feira, quando soube do fim trágico daquele guardinha que conheci com 16 anos e que um dia, ainda em dúvida em relação a que profissão seguir, me questionou sobre as peculiaridades da carreira jornalística.

O garoto David, com quem tive a honra de trabalhar no início da década, se destacava pela educação, perfeccionismo, solidariedade, grande senso de humor e pela consciência da importância do trabalho em equipe. Embora tenha engolido o choro ao vê-lo ali, sem vida, prestes a ser conduzido a sua derradeira morada, guardo na memória a imagem em que ele aparece de farda azul, cabelos rebeldes e um grande sorriso no rosto.

A partida precoce do meu amigo, com quem cansei de dividir a mesa do almoço no restaurante que apelidamos de “panela no chão”, suscitou uma série de “viagens” mentais. Aquele tipo de viagem que nos atormenta todas as vezes que nos vemos engolidos pelo imponderável, por situações que estão além de explicações e justificativas lógicas. Trocando em miúdos, pirei. Por algumas horas, fiquei fora do ar, perdido entre o real da vida e o surreal da morte.

Ao assistir ao sofrimento daquela pobre mãe, inconformada em busca de uma explicação para a morte do único filho homem, senti-me impotente e com muito medo da morrer. Num determinado momento, enquanto ouvia seu choro e suas insistentes tentativas de diálogo com o caçula em cima do caixão, me coloquei nos lugares dela e dele. Tentando imaginar o terrível sofrimento que a acometia e, do outro lado, o desespero de um jovem cujo corpo já não mais o pertencia.

Enquadrada pela banalidade, a descrição acima pode parecer dramática demais, fruto da cabeça de alguém que se impressionou muito com a perda precoce de um amigo próximo ou até palavras de uma pessoa ignorante em relação aos planos que nos esperam depois da vida material. Talvez eu me encaixe em uma dessas alternativas. Ou talvez em todas elas.

O que sei é que sofri demais com a morte inesperada do “DVD”. Por isso, meu grande amigo, onde quer que esteja, saiba que em apenas 26 anos você cumpriu seu papel na terra. Teve pouco tempo, é verdade, mas deixou uma mensagem de amor à vida, à família e, sobretudo, ao trabalho. Até um dia, meu amigo!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2010: entre o crescimento e a paralisia

Ainda de ressaca, fiz uma breve retrospectiva de 2009 e um ligeiro prognóstico de 2010. A primeira parte, confesso, foi muito fácil. Afinal, quem vai querer se lembrar de um ano em que a humanidade quase foi extinta por um colapso financeiro mundial e aniquilada por uma gripe devastadora?

Dois mil e nove ficará marcado como ano do vírus influenza H1N1. Com ar de apocalipse, a pandemia mundial da gripe A deixou o mundo inteiro em pânico e nos reeducou. Reaprendemos a importância da higiene pessoal e, calorosos que somos, padecemos diante do perigo dos contatos físicos.

Também podemos rotulá-lo como o ano em que uma tempestade econômica - ou uma suave marolinha? - varreu as maiores economias do mundo e deixou um enorme rastro de destruição. Bancos quebraram, empresas foram à bancarrota, grandes corporações pediram concordata e multinacionais acabaram salvas graças à injeção de dinheiro público.

Embora tenhamos de conviver o resto de nossas vidas olhando para as cicatrizes, até que passamos bem pelos obstáculos. É claro que não se pode ignorar as milhares de pessoas que perderam seus empregos por conta da retração econômica e outras milhares que pagaram a conta da epidemia com o bem mais precioso que temos: a vida. No entanto, não podemos negar que o estrago poderia ter sido bem maior.

Para 2010, a expectativa é paradoxal. Com base no desempenho heroico do Brasil em um ano de forte adversidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita em um ano excelente, de crescimento econômico além dos padrões. Porém, vale lembrar que teremos Copa do Mundo, evento que para o país e, portanto, desacelera a produção industrial, mola-mestra do desenvolvimento.

Se não bastasse a Copa, 2010 é ano de eleições presidenciais. Todo mundo sabe o que acontece com o país nos meses que antecedem a disputa. Além da paralisia que acomete o poder público e se alastra a todos os setores da economia, a sucessão cria crises e antídotos de forma instantânea. E quem paga o custo da disputa é o eleitor que, com base no cenário econômico, se vê pressionado a definir o futuro da nação.

Desta forma, 2010 é um ano ambíguo. Ao mesmo tempo em que demonstra potencial para alçar voos de águia, tem grande propensão a se comportar como galinha, engessado pelo jogo político que envolve o pleito. A nós, resta torcer para que nossos políticos ajam com maturidade e não travem o desenvolvimento. De resto, é só deixar rolar, pois o Brasil é uma enorme locomotiva em franca aceleração.