segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2010: entre o crescimento e a paralisia

Ainda de ressaca, fiz uma breve retrospectiva de 2009 e um ligeiro prognóstico de 2010. A primeira parte, confesso, foi muito fácil. Afinal, quem vai querer se lembrar de um ano em que a humanidade quase foi extinta por um colapso financeiro mundial e aniquilada por uma gripe devastadora?

Dois mil e nove ficará marcado como ano do vírus influenza H1N1. Com ar de apocalipse, a pandemia mundial da gripe A deixou o mundo inteiro em pânico e nos reeducou. Reaprendemos a importância da higiene pessoal e, calorosos que somos, padecemos diante do perigo dos contatos físicos.

Também podemos rotulá-lo como o ano em que uma tempestade econômica - ou uma suave marolinha? - varreu as maiores economias do mundo e deixou um enorme rastro de destruição. Bancos quebraram, empresas foram à bancarrota, grandes corporações pediram concordata e multinacionais acabaram salvas graças à injeção de dinheiro público.

Embora tenhamos de conviver o resto de nossas vidas olhando para as cicatrizes, até que passamos bem pelos obstáculos. É claro que não se pode ignorar as milhares de pessoas que perderam seus empregos por conta da retração econômica e outras milhares que pagaram a conta da epidemia com o bem mais precioso que temos: a vida. No entanto, não podemos negar que o estrago poderia ter sido bem maior.

Para 2010, a expectativa é paradoxal. Com base no desempenho heroico do Brasil em um ano de forte adversidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita em um ano excelente, de crescimento econômico além dos padrões. Porém, vale lembrar que teremos Copa do Mundo, evento que para o país e, portanto, desacelera a produção industrial, mola-mestra do desenvolvimento.

Se não bastasse a Copa, 2010 é ano de eleições presidenciais. Todo mundo sabe o que acontece com o país nos meses que antecedem a disputa. Além da paralisia que acomete o poder público e se alastra a todos os setores da economia, a sucessão cria crises e antídotos de forma instantânea. E quem paga o custo da disputa é o eleitor que, com base no cenário econômico, se vê pressionado a definir o futuro da nação.

Desta forma, 2010 é um ano ambíguo. Ao mesmo tempo em que demonstra potencial para alçar voos de águia, tem grande propensão a se comportar como galinha, engessado pelo jogo político que envolve o pleito. A nós, resta torcer para que nossos políticos ajam com maturidade e não travem o desenvolvimento. De resto, é só deixar rolar, pois o Brasil é uma enorme locomotiva em franca aceleração.