quarta-feira, 27 de julho de 2011

Um dia com Amy Winehouse

O trágico fim da controversa cantora britânica Amy Winehouse, encontrada morta em sua casa na tarde do último sábado, me levou a uma agradável e esclarecedora viagem no tempo. Enquanto refletia sobre a linha tênue entre a vida e a morte e a importância das escolhas que fazemos nessa imprevisível e indecifrável equação, fui transportado para aquela fria tarde de 18 de maio de 2009.

Em férias, eu e minha esposa Carla Marton desfrutávamos de nossa primeira - e, até agora, única - viagem internacional. Deixamos o Hotel Tavistock, localizado a pouco mais de uma quadra da estação de metrô Russell Square, em Londres, depois de um café da manhã exageradamente calórico, para um dia que marcaria nossas vidas para sempre. Destino inicial: museu Madame Tussauds, famoso pela perfeição de suas estátuas de cera, esculpidas à semelhança de atores, cineastas, cantores, músicos, atletas, ícones políticos, figuras da realeza mundial etc, e instalado num prédio de arquitetura esférica situado na famosa Baker Street, território fictício do lendário detetive Sherlock Holmes.

Entre as muitas estátuas, a de Amy Winehouse ocupa lugar de destaque. Além de ser patrimônio da cultura britânica, a jovem sempre exerceu relativo fascínio sobre o público, por conta de seu incontestável talento, sua personalidade enigmática e do modo de vida desregrado. Tanto que sua réplica era umas das mais concorridas da exposição. Ficamos cerca de dez minutos ao redor da estátua, admirando-a, tirando fotos e atendendo pedidos de turistas de diversas nacionalidades: “Can you take a picture, please?”

Saindo do museu, seguimos para uma Londres alternativa, o bairro Camden Town, refúgio da cantora britânica. Logo ao emergir da estação que leva o nome daquele colorido caldeirão de estilos e gostos peculiares, entendemos por que Amy se sentia tão à vontade por ali. As ruas são tomadas por feiras nada convencionais, inúmeros estúdios de tatuagem e piercings, além de lojas de roupas e acessórios que fazem a cabeça de pessoas, digamos, mais descoladas.

Caminhando pela Camden Town Square, onde morava a cantora, sentimos uma atmosfera diferente. Algo multicultural, sei lá... A impressão que tivemos foi de que ali o mundo não tinha fronteiras, regras e limites. Tudo era válido e sem qualquer traço de preconceito ou discriminação. Acho que foi isso que seduziu Amy e a fez acreditar que era invencível. Que seu legado resistirá ao tempo não se discute. Porém, sua morte chama a atenção para os limites do corpo humano e para a necessidade de equilíbrio na condução da vida.