quarta-feira, 7 de julho de 2010

Até um dia, ‘DVD’!

A morte do jornalista David Garcia, vítima de um improvável e inacreditável acidente de trânsito em Americana, me levou a profundas reflexões sobre a linha tênue estabelecida entre a vida e a morte. Pensamentos que ocupam minha mente desde as 16 horas da última segunda-feira, quando soube do fim trágico daquele guardinha que conheci com 16 anos e que um dia, ainda em dúvida em relação a que profissão seguir, me questionou sobre as peculiaridades da carreira jornalística.

O garoto David, com quem tive a honra de trabalhar no início da década, se destacava pela educação, perfeccionismo, solidariedade, grande senso de humor e pela consciência da importância do trabalho em equipe. Embora tenha engolido o choro ao vê-lo ali, sem vida, prestes a ser conduzido a sua derradeira morada, guardo na memória a imagem em que ele aparece de farda azul, cabelos rebeldes e um grande sorriso no rosto.

A partida precoce do meu amigo, com quem cansei de dividir a mesa do almoço no restaurante que apelidamos de “panela no chão”, suscitou uma série de “viagens” mentais. Aquele tipo de viagem que nos atormenta todas as vezes que nos vemos engolidos pelo imponderável, por situações que estão além de explicações e justificativas lógicas. Trocando em miúdos, pirei. Por algumas horas, fiquei fora do ar, perdido entre o real da vida e o surreal da morte.

Ao assistir ao sofrimento daquela pobre mãe, inconformada em busca de uma explicação para a morte do único filho homem, senti-me impotente e com muito medo da morrer. Num determinado momento, enquanto ouvia seu choro e suas insistentes tentativas de diálogo com o caçula em cima do caixão, me coloquei nos lugares dela e dele. Tentando imaginar o terrível sofrimento que a acometia e, do outro lado, o desespero de um jovem cujo corpo já não mais o pertencia.

Enquadrada pela banalidade, a descrição acima pode parecer dramática demais, fruto da cabeça de alguém que se impressionou muito com a perda precoce de um amigo próximo ou até palavras de uma pessoa ignorante em relação aos planos que nos esperam depois da vida material. Talvez eu me encaixe em uma dessas alternativas. Ou talvez em todas elas.

O que sei é que sofri demais com a morte inesperada do “DVD”. Por isso, meu grande amigo, onde quer que esteja, saiba que em apenas 26 anos você cumpriu seu papel na terra. Teve pouco tempo, é verdade, mas deixou uma mensagem de amor à vida, à família e, sobretudo, ao trabalho. Até um dia, meu amigo!