quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Deite nos trilhos!

Sugerida pelo amigo jornalista Marcelo Lopes da Rocha, a leitura de uma reportagem da revista “Superinteressante” do mês passado (http://migre.me/62KGe) me inspirou a conclamar todos os usuários negligenciados e mal atendidos pelo SUS - e, acima de tudo, meio malucos - para um tratamento alternativo de doenças como colesterol, pressão alta, reumatismo, diabetes e insônia.

Nos arredores de Rawa Buaya, em Jacarta, capital da Indonésia, é comum observar idosos deitados na linha férrea diariamente, sempre depois das 17h. Para eles, os trilhos são extensas câmaras medicinais. As autoridades locais não sabem explicar a origem do fenômeno, mas admitem que os pacientes se arriscam por conta da inoperância da rede pública e por não terem condições de pagar planos de saúde.

Como por aqui a situação não é diferente, imagine se todos os doentes descontentes resolvessem relaxar nos trilhos em busca de cura? Com certeza faltariam lugares na ferrovia que corta a região. Por outro lado, a vocação terapêutica da linha férrea seria uma bela substituta para o transporte de cargas, hoje marcado por descarrilamentos decorrentes da falta de manutenção das estradas de ferro.

Na Indonésia, o fenômeno está chamando a atenção do governo. As autoridades montaram um esquema especial de vigilância, para reprimir e multar os “pacientes” das linhas férreas. Quem for flagrado deitado nos trilhos pode ser multado em R$ 3 mil e até ir parar na cadeia. O lado positivo disso tudo é a movimentação do poder público local para desestimular a perigosa prática. "Não tem funcionado (a ação repressiva). Para tirar as pessoas dos trilhos temos que fornecer saúde de qualidade", disse o chefe da Secretaria de Transporte de Jacarta, Azas Tigor.

Seguindo o exemplo indonésio, quem sabe deitar nos trilhos, em que pese o eminente risco de atropelamento, não seja uma forma de protestar contra o sucateamento da rede pública de saúde? É claro que os moradores de Jarcarta não agem politicamente. Para eles, o apelo às ferrovias mais parece resultado de uma ação individual que ganhou repercussão coletiva.

Particularmente, brincadeiras à parte, vejo o inusitado fato, convertido em reportagens veiculadas em jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão, como uma involuntária crítica à precariedade escancarada em unidades básicas, prontos-socorros e hospitais públicos do Brasil e do mundo. A mensagem que fica é a seguinte: ou os governos investem em saúde ou teremos cidadãos deitados em linhas férreas, rodovias e até boiando em rios. Tudo em nome da tão sonhada cura.