terça-feira, 4 de outubro de 2011

O choro de um gênio

“Agora eu faria qualquer coisa para ter você de volta ao meu lado. Mas eu só fico rindo, escondendo as lágrimas em meus olhos”. A mesma música que levou o saudoso Ayrton Senna às lágrimas na edição de 15 de dezembro de 1986 do programa “Roda Viva”, da TV Cultura, carrega o pensamento de milhões de brasileiros que ficaram órfãos naquela fatídica manhã de 1º de maio de 1994, quando o gênio da Fórmula 1 morreu ao bater violentamente sua Williams contra o muro da curva Tamburelo, no Grande Prêmio de Ímola, na Itália.

Revendo a entrevista na noite de segunda-feira, confesso que fiquei emocionado mais uma vez. Apesar de já ter assistido ao histórico programa pelo menos uma dúzia de vezes, foi impossível não ceder à simplicidade, à autenticidade, à sinceridade e ao patriotismo de um homem que desafiou a morte com paixão, determinação, extremo orgulho de ser brasileiro e nunca deu bola para o maior destruidor de caráteres que existe, a ganância. "O que eu menos penso é no dinheiro que eu ganho”, dizia Ayrton, que nunca escondeu sua riqueza e a importância que dava a ela no dia a dia.

Senna ouviu a canção “Boys don’t cry”, da banda The Cure, vendo uma das cenas mais marcantes da história do esporte. Depois de fazer a pole position em Detroit naquele mesmo ano, o piloto da Lotus venceu a corrida e fez pela primeira vez o gesto que viraria sua marca registrada. “Quando eu passei na linha de chegada, eu vi um brasileiro do lado de lá da cerca, pra trás do bandeirinha, com uma bandeirinha do Brasil. Aí o bandeirinha foi lá, tomou a bandeira do torcedor que estava pendurado lá na cerca. Entendeu, isso é que é maravilhoso, né? O cara torcendo, né, e trouxe a bandeira para mim e eu dei a volta com a bandeira”, relembrou, emocionado, ao responder à pergunta do jornalista Rodolpho Gamberini.

Mas o que me chama a atenção nas contidas lágrimas de Ayrton Senna não é simplesmente a emoção. Além das gotas de água salgada, verteu dos olhos do ilustre brasileiro uma metafórica declaração de amor ao povo brasileiro. Muita gente acha que Senna não passou de um playboy que usava o automobilismo para torrar a fortuna da família. Porém, felizmente, a maioria entendeu que a abundância financeira o levou a se concentrar em duas coisas: fazer o que realmente lhe dava prazer e demonstrar o orgulho que tinha de ser brasileiro. Pelo Twitter, a TV Cultura já anunciou que vai reprisar a entrevista nos primeiros 30 minutos desta sexta-feira. Provavelmente, vou rever o programa. E certamente me emocionarei de novo.

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